Clarissa e o desabrochar da adolescência


Sérgio Santos

De Érico Veríssimo, só havia lido Olhai os lírios do campo, um romance tocante, que muito me emocionou e sobre o qual escrevi uma resenha.em 2013. Agora tive oportunidade de ler uma segunda obra do autor, que corresponde ao seu primeiro romance: Clarissa, publicado em 1933. Trata-se de uma narrativa de sabor romântico, que nos remete a algumas produções literárias da primeira metade do século XIX, como A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Inocência, de Visconde de Taunay. 

A protagonista de Clarissa é uma menina que está desabrochando para a adolescência, e que sonha com o mundo de possibilidades que seus 14 anos iria lhe proporcionar: poder usar sapatos de salto, receber tratamento de moça, ser admirada por todos e ser alvo dos galanteios dos rapazes. Devido aos estudos, Clarissa, filha de fazendeiros, é enviada para a capital (Porto Alegre) para morar na pensão de tia Eufrasina. É justamente nesse ambiente que Clarissa começa a ampliar seus horizontes, fazendo descobertas que a intrigam, ao mesmo tempo que a encantam. Na pensão, tem de conviver com vários tipos humanos, com seu modo de vida, suas idiossincrasias, suas virtudes e seus defeitos. Entre eles, destaca-se o soturno Amaro, um senhor de meia-idade que pouco fala, vive recluso e a compor estranhas músicas em seu piano. É o único que parece acompanhar, ainda que muito discretamente e de longe, as transformações ocorridas no interior daquela menina tão faceira, por quem parece nutrir algum sentimento insuspeito. É em torno dessa descoberta de sensações e sentimentos que a narrativa se desenvolve.

O livro, sem dúvida, é envolvente, e me capturou desde o primeiro instante. No entanto, não teve o mesmo impacto que senti com a leitura de Olhai os lírios do campo, magistral romance publicado cinco anos depois de Clarissa. Enquanto este me deixou com aquela sensação de abandono que - penso - todos sentimos diante de obras abertas, isto é, aquelas cujo desfecho parece sugerir uma continuidade, um inacabamento, que deve ser preenchido com a imaginação do leitor, aquele é uma obra acabada, com uma resolução clara e carregada de emoção. De qualquer forma, considero Clarissa um bom romance, que atesta a grandeza de Érico Veríssimo e sua importância para a literatura nacional.  

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