Luiz Felipe Pondé e sua "Filosofia para corajosos"


Concluí nesta manhã, 24 de abril, a leitura de Filosofia para corajosos, de Luiz Felipe Pondé. Salvo engano, o primeiro livro de Pondé que li foi Contra um mundo melhor, e na ocasião achei-o um autor muito interessante, talvez devido ao seu estilo de escrever ou simplesmente porque eu o achava corajoso por  fazer afirmações contrárias ao que chamaríamos de bom senso. Por exemplo, qual seria o sentido de ser contra um mundo melhor? A verdade é que, na época em que o li pela primeira vez, eu estava simpático a certas ideias conservadoras, e, por essa razão, não me atentei para os discursos do autor que nada eram que fraseologias, generalizações apressadas, certa militância reacionária e a elevação de preconceitos ao status de filosofia. Todos esses problemas ficam muito claros em seu Filosofia para corajosos, livro que me convocou a fazer várias anotações durante a leitura.

No livro, Pondé convida o leitor a fazer uma filosofia em primeira pessoa, o que se traduziria por pensar com a própria cabeça. Nesse sentido - assevera - está assumindo uma perspectiva filosófica nietzschiana, um filosofar com o martelo. E, nessa direção, Pondé prossegue pensando com sua cabeça, revelando-se não um livre-pensador, mas um intelectual afetado que, do alto dos seus achismos, enxerga quem pensa diferente dele como inferior. Seria essa uma leitura enviesada do seu texto? Acontece que o autor não esconde sua afetação em momento algum. Por exemplo, ao referir-se aos intelectuais ou ativistas como "inteligentinhos", "bobinhos", "chatos", "bregas", "picaretas", etc., Pondé se coloca, claro, em um lugar distinto dessas pessoas. O uso do diminutivo irônico é recorrente, como se o autor sentisse necessidade de rebaixar seus "desafetos" para poder ascender como um intelectual de verdade. Mas como ele procura se distinguir da maioria?

Uma das formas é sustentar estereótipos: os intelectuais, no geral, são hipócritas e gostam de ostentar sua inteligência em jantares chiques. Por exemplo, endossando a máxima de Nelson Rodrigues de que dinheiro compra até amor verdadeiro, Pondé escreve:

"Experimente fazer essa pergunta num jantar inteligente com seus amigos psicanalistas, jornalistas e arquitetos, todos muito inteligentes. O grau de hipocrisia deles será proporcional ao modo enfático como negarão essa máxima rodriguiana.".

Ou seja, o hipócrita é todo aquele que não pensa como Pondé. Ele ainda sustenta:

"Nunca confie em gente que afirma ser guiada por valores maiores que dinheiro. Quem diz que faz as coisas por algo maior do que grana é quem pensa só na grana, pode apostar. Nunca confie na bondade dos bons.".

Mas o que sustentaria essa afirmação senão os próprios preconceitos do autor e seu pessimismo mórbido, capaz de afirmar categoricamente que "todo mundo tem um preço, menos os que não valem nada"? 

Para os desavisados, pode parecer que Pondé está apenas fazendo filosofia, no entanto uma leitura atenta torna evidente que seu texto é mais um panfleto político contra a esquerda do que propriamente um livro de filosofia para corajosos, conforme anunciado no título. Ao longo do texto, o autor tece críticas a marxistas, feministas, veganos, ativistas da causa animal, acadêmicos e professores (que seriam, no geral, de esquerda), etc. - tudo em tom de deboche, sem aprofundar-se em nenhuma discussão.

Em relação a críticos do sistema capitalista, ele sugere, como qualquer conservador de última hora nas redes sociais, que se mudem para a Coreia do Norte. E, apesar de repetir a ideia de que a democracia é o pior dos regimes depois de todos os demais, Pondé revela pouco apreço por ela, uma vez que garantiria que prevalecesse inevitavelmente a vontade dos idiotas, uma vez que são maioria sempre. Sem discorrer sobre o complexo tema do aborto, ele escreve sobre os ativistas da causa animal que "Amar os animais – independentemente de eles serem amáveis – é um atestado de vida fácil; por isso, tanta gente chora por coelhinhos e babam em favor do aborto". Preciso dizer alguma coisa?

Ademais, o grande filósofo Pondé, desconsiderando toda uma tradição teórica e acadêmica, reduz figuras exponenciais da Filosofia, Sociologia e Psicologia como picaretas. É o caso de Marx, Nietzsche e Freud. Outros autores são descritos como sacerdotes de uma religião política, como Rousseau, Foucault, Bourdieu, Badiou e novamente Marx. Essas e outras bobagens podem ser encontradas em Filosofia para corajosos. E você, tem coragem para ler a filosofia da cabeça de Pondé?

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