Desde a pré-adolescência, quando cursava o ensino fundamental, interessei-me pelo gênero ficção científica, tanto em suas realizações na Literatura quanto no Cinema. A verdade é que o gênero me conquistou desde minhas leituras juvenis de Júlio Verne e Isaac Asimov até o contato com a série Star Trek, que pude acompanhar pela TV Manchete, nos anos 1990. Apesar do interesse de longa data, admito que nunca fui um fã muito devotado, uma vez que só consumia o material que caía em minhas mãos. No entanto, no meu atual movimento de assistir aos clássicos do Cinema, acabei mudando esse comportamento e garimpei na internet, com o intuito de assistir ontem, ao O dia em que a Terra parou, filme americano de 1951, dirigido por Roberto Wise. Como talvez seja o caso de muitos, conheci primeiro a canção homônima de Raul Seixas (parceria com Cláudio Roberto), presente no álbum de 1977, também intitulado O dia em que a Terra Parou, primeiro registro fonográfico após sua saída da gravadora Philips, onde está, na minha opinião, a melhor parte de sua discografia. Uma vez que sou, agora sim, fã devotado do grande Maluco Beleza (a propósito, apelido extraído de uma das canções do referido álbum), tive o interesse despertado imediatamente ao saber da existência do filme. Nesses dias de pandemia, curiosamente a canção foi relembrada como uma espécie de letra profética sobre os tempos de isolamento social pelo grande parte do mundo está passando, causando a paralisação de muitas das atividades em todo o globo terrestre. Mas, afinal, que filme é esse que inspirou Raul Seixas a compor essa canção?
A narrativa de O dia em que a Terra parou inicia com a chegada de uma espaçonave misteriosa na Terra, que, claro, pousa em solo americano, exatamente no Central Park. Da espaçonave saem dois tripulantes: Klaatu, um alienígena com forma humana, e Gort, um robô programado para impedir a manifestação de atos de agressão, uma espécie de guarda-costas de Klaatu. Esse evento é amplamente noticiado pela imprensa, acompanhado com atenção pelos cidadãos americanos e discutido com preocupação pelas autoridades do país. A missão de Klaatu é pacífica, mas no seu desembarque é logo recebido com um tiro, e levado ao Hospital do Exército, de onde não é permitido sair. Contrariando essa determinação, escapa de sua prisão e sua recaptura passa a ser uma prioridade de Estado, uma vez que é visto como uma ameaça, sobretudo depois da forma como Gort reagiu ao ataque sofrido por ele, demonstrando um poder bélico superior ao de qualquer governo humano. Misturando-se entre as pessoas, aproxima-se de Helen Benson, funcionária do Departamento do Comércio, e de seu filho Bobby. Esses personagens serão importantes no sentido de ajudá-lo a comunicar sua mensagem a todas as nações, representadas por cientistas, uma vez que sua tentativa de falar aos governantes não prosperou.
A mensagem de Klaatu é um alerta para o perigo do avanço na fabricação de armas de destruição em massa, isto é, de artefatos militares capazes de pôr a vida da Terra e de outros planetas em risco. Apesar de a própria civilização do protagonista ser mais avançada nesse aspecto, a evolução da tecnologia bélica pelos terráqueos constitui-se um perigo real, considerando que os seres humanos são, no geral, estúpidos, deixando-se guiar por interesses mesquinhos. Considerando o ano de 1951, O dia em que a Terra parou retrata bem as preocupações com a corrida armamentista em curso na época. O mundo vivia então o contexto da Guerra Fria, e já era conhecido o poder destruidor de bombas atômicas, como as lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. A temática, portanto, impunha-se. Evidentemente, o recado continua falando a nós, homens do século XXI, uma vez que continuamos a promover guerras estúpidas. No entanto, o filme ganhou um remake em 2008, partindo de outra preocupação que passou a ter mais notoriedade na atualidade : a crise ambiental. Espero em breve poder assistir a essa adaptação para poder comparar os roteiros, e verificar o que o filme de 2008 acrescenta ao do longínquo filme da metade do século passado.

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